Do vinho

Coluna do Dal

Do vinho

Aristófanes (446 a.C.-382 a.C.), dramaturgo grego, considerado o maior representante da Comédia Antiga, costumava dizer: “Rápido, me traga uma taça de vinho para eu poder molhar a mente e dizer algo inteligente”. Procedimento que para muita gente não funciona nem com um barril de vinho.

A frase latina “in vino veritas” pode ser entendida como “no vinho está a verdade”. A frase completa seria “in vino veritas, in acqua sanitas”, significando “no vinho está a verdade, na água a saúde”, atribuída ao escritor romano Gayo Plinio Cecilio Segundo (23 d.C.-79 d.C.), conhecido como Plinio, o Velho. Considerado velho, morreu com 56 anos. E nem carteirinha de idoso possuía.

Pois é. Começamos a falar do vinho citando um grego e um romano, face à importância dessa bebida nas respectivas civilizações dessas pessoas.

O vinho é, em essência, o suco obtido da fermentação de uvas amassadas. As leveduras presentes nas cascas das uvas convertem os açúcares do suco em álcool. O vinho surgiu como resultado do armazenamento de uvas ou sucos de uva por longos períodos em recipientes de cerâmica.

Estudos arqueológicos sugerem que o vinho já era produzido entre os anos 9000 e 4000 a.C. nas montanhas de Zagros, numa região que atualmente corresponde à Armênia e ao norte do Irã. Dessa região, o conhecimento da produção do vinho espalhou-se para o oeste (Grécia e Turquia) e para o sul (Síria, Líbano, Israel e Egito).

Na Grécia o vinho passou a ser consumido em festas (“symposia”). E em simpósios de intelectuais criou-se o jeito grego de beber vinho, ou seja, misturado com água. Beber vinho sem antes misturá-lo com água era considerado pelos gregos coisa de gente primitiva.

Nos simpósios, o pessoal bebia para, de forma civilizada, obter a verdade. O filósofo grego Eratóstenes  (275? a.C.-194 a.C.) dizia: “O vinho revela o que está escondido”.

No livro “O Banquete”, de Platão, Sócrates é considerado o bebedor ideal. Após uma noite inteira de bebedeira, todos caíam no sono, exceto Sócrates, que fazia uso do vinho para a busca da verdade com muita parcimônia. Coisa que, infelizmente, não é um atributivo do nome do filósofo. Nos simpósios gregos não havia músicos ou dançarinas, pois, segundo Platão, somente homens seriam capazes de se entreter, falando um a cada vez.

Quando Roma começou a cultivar videiras, a popularidade do vinho implicou decadência na agricultura de subsistência de tal forma que a importação de grãos das colônias africanas tornou-se obrigatória. Os pequenos proprietários vendiam suas chácaras, que eram incorporadas às áreas de ricos produtores de vinho, e mudavam-se para Roma. A população da cidade cresceu substancialmente – de cerca de cem mil em 300 a.C. para um milhão na época do nascimento de Cristo.

Diferentemente dos gregos, os romanos promoviam banquetes (“convivium”) nos quais eram servidos vinhos de qualidades diferentes, de acordo com a classe dos participantes. Os ricos, como sói acontecer, bebiam os melhores vinhos. No “convivium” romano era permitido músicos e dançarinas, o que, muitas vezes, corroborava para que festas virassem esbórnias.

Por falar em qualidade de vinhos, lembro-me de um fato. No colegial, o nosso professor de Química (Professor Manente) contou-nos uma piadinha: numa cidade próxima à Sorocaba, um velho produtor de “vinho” chamou o filho herdeiro. E no seu leito de morte, com voz de moribundo, fez uma revelação: “Filho, vinho também é feito com uvas”.

Felizmente, hoje podemos usufruir de bons vinhos do Chile, da Argentina e até do Brasil. Um bom vinho é sempre bem-vindo. Mesmo que seja presente de grego, ou de romano.

 

Adalberto Nascimento
(⭐6/6/1946 | ➕1/7/2019)

Engenheiro civil graduado pela Poli-USP (1972), pós-graduado na área de Transportes, atuou como engenheiro, consultor e professor universitário.
Foi o associado n.º 1 da AEASMS, servidor municipal de carreira, ex-secretário de Edificações e Urbanismo (1983/88), de Transportes e presidente da Urbes (1993/96).
Escritor, autor de livros de crônicas e curiosidades matemáticas e membro da Academia Sorocabana de Letras. Além de publicados pelo jornal Cruzeiro do Sul, entre outros veículos, seus artigos ilustraram e continuam ilustrando o conteúdo deste site “Coluna do Dal e Desafio do Prof.º Dal”.

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