Um novo modelo de lixeira inteligente, criado pela empresa SmartCity Go, do engenheiro curitibano Rafael Caetano, tem atraído a atenção de gestores públicos por incentivar uma nova relação dos cidadãos com a coleta de lixo reciclável nas cidades. O dispositivo, nomeado de SmartBin, funciona como um sistema de caixas inteligentes distribuídas pelas ruas públicas, que são ativadas via aplicativo no smartphone, semelhante aos já conhecidos modelos para desbloquear patinetes e bicicletas.
Para o cidadão usar a lixeira, o processo é simples: primeiro é preciso localizar por meio do aplicativo os locais em que o SmartBin está instalado. Em seguida, desbloquear a tampa da lixeira usando um QRCode estampado no equipamento e inserir o resíduo reciclável que contém um código de barras que é reconhecido automaticamente pela lixeira inteligente por conter um leitor de código de barras internamente, que processa o depósito e envia incentivo financeiro ao usuário através do aplicativo.
Um dos principais diferenciais da inovação tecnológica está no momento em que a lixeira atinge sua capacidade máxima. Nesta etapa, um sinal é enviado automaticamente para os coletores parceiros credenciados da SmartCity Go, que disponibilizará a coleta do conteúdo do equipamento e o transporte até um depósito de resíduos credenciado. Neste processo, o coletor é remunerado pela execução do transporte. Parte do valor pago fica com o profissional e a parte é direcionada para a SmartCity Go gerir o sistema. No Brasil, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial já concedeu o registro de patente do SmartBin e também do sistema de gestão desenvolvido.
A iniciativa atraiu interesse da cidade australiana Adelaide, eleita este ano como a terceira melhor cidade para se viver no mundo, que já utiliza dispositivos semelhantes, mas que são ativados via touchscreen. “A tecnologia de desbloquear a lixeira via aplicativo teve boa aceitação na cidade pelo fato de se usar o próprio celular do usuário. Desde o início da pandemia da Covid-19, os pontos de troca de recicláveis vinham perdendo atratividade por causa do receio das pessoas de compartilhar uma tela”, explica o engenheiro Rafael Caetano.
As negociações com a cidade de Adelaide começaram em meados de 2020. A pandemia da Covid-19, no entanto, adiou a contratação de quaisquer serviços que não fossem de emergência de saúde. Neste ano, as tratativas voltaram a evoluir. “Além da Austrália, já há interesse no sistema de representantes da Bélgica e de um parque tecnológico do Brasil”, acrescenta Caetano. O sul da Austrália foi escolhido para elaborar o projeto por causa de seu histórico de 40 anos em desenvolver iniciativas de reembolso para reciclagem. Anualmente, a região consegue retornar cerca de 600 milhões de garrafas e latas de bebidas, o que demonstra o potencial mercado para esse tipo de inovação no país.
O dispositivo, além de incentivar a economia circular e a compensação monetária de programas de reciclagem, também é versátil. Ele foi construído para ser modulável, ou seja, o equipamento pode ser adaptado e integrado a recipientes de coleta de diversos tamanhos, materiais e finalidades, podendo inclusive ser móvel.
Em Adelaide, a inovação do novo modelo de coleta de recicláveis, com os coletores parceiros, pode aumentar exponencialmente a popularização desse tipo de iniciativa em outras regiões da cidade. “Hoje, os pontos de coleta estão concentrados quase 100% nos bairros, o que deixa o centro da cidade sem pontos. Nesse sentido, a tecnologia irá expandir a coleta nos centros da cidade, local de alta demanda de escritórios, bares, restaurantes, moradia, e com alta densidade populacional. Criar um centro de coleta no centro é uma experiência inviável do ponto financeiro, mas com os coletores parceiros, esse desafio é superado”, diz Caetano.
Para Fabro Steibel, conselheiro da MIT Sloan Review Brasil e da SmartCity Go, o sistema SmartBin torna mais eficiente a cadeia de coleta de reciclagens, criando empregos intermediários em atividades que antes eram exclusivas do governo. “A coleta de recicláveis é um dever do Estado e é fundamental para redução das emissões de carbono. Mas o custo é todo da administração pública, com algum co-financiamento do setor privado. Essa solução inclui um ator novo no ecossistema, que é o trabalhador individual”, avalia.
Fonte: Ciclo Vivo