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Da Cadopô à aposentadoria

*Publicado originalmente em 10 de maio de 2018. Republicado em homenagem ao nosso mentor, professor e amigo Dal (6/6/1946 – 1/7/2019)

 

Amigos há quase 50 anos, Adalberto e Yabiku relembram fatos que vivenciaram como servidores municipais

 

Uma amizade que começou em 1969, quando os dois sorocabanos viveram em São Paulo, cursaram engenharia civil na Poli-USP e moraram na Casa do Politécnico (Cadopô), tradicional alojamento estudantil de então.

Assim, os caminhos de Adalberto Nascimento e Francisco Moko Yabiku se cruzaram pela primeira vez e se reencontraram alguns anos depois, quando trabalharam na Prefeitura de Sorocaba.

Aposentados há alguns anos como servidores públicos municipais, os dois relembram – com o bom humor característico de ambos – algumas histórias de há quase cinco décadas.

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Casa do Politécnico

Adalberto, chamado de Dal pelos amigos, chegou primeiro à capital, em 1967. Morou inicialmente num dos apartamentos do Conjunto Residencial da USP (Crusp). “Porém, com endurecimento das ações pelo Governo Militar, o Crusp foi fechado. Então, me mudei para a Casa do Politécnico”, lembra.

Fundada em 1957 e chamada pelos universitários por seu apelido, a Cadopô abrigava 110 estudantes da Poli-USP, originários de fora da capital e com poucos recursos financeiros. Yabiku lembra que conheceu Adalberto pouco antes de entrar na universidade.

“Conhecia o Dal de nome, pois tivemos ancestrais ligados ao bairro de Itavuvu. Fomos apresentados logo que passei no vestibular, num dia em que nos encontramos na Praça Cel. Fernando Prestes e um amigo em comum disse a ele: ‘Esse daí vai ser seu bixo’. Mas o efetivo convívio ocorreu na Cadopô”, conta.

Os amigos lembram-se do aprendizado universitário e de colegas do período em que viveram na república estudantil, bem como do contexto histórico do Brasil na época. “Éramos jovens e fomos viver fora para estudar, passando por dificuldades semelhantes. Acabamos formando uma segunda família”, afirma.

Como moravam no alojamento estudantes de diferentes cursos e períodos, Yabiku lembra que era comum a formação de grupos de estudo e o compartilhamento de livros entre os alunos mais adiantados com os que chegaram à faculdade depois. “Costumo até dizer que meu diploma é da Poli, mas sou formado pela Cadopô”, brinca.

Desenvolvimento urbano e viário

Após concluir o Ensino Superior, Yabiku retornou a Sorocaba para trabalhar como engenheiro civil. Ingressou na Prefeitura em 1974, na então Secretaria de Edificações e Urbanismo (Seurb), período em que a sede do Executivo se localizava na Rua Sete de Setembro, no Centro.

Já Adalberto fez pós-graduação e cursos de especialização nas áreas de transportes, atuando em Sorocaba, na capital e Grande São Paulo como engenheiro, consultor e professor universitário nas áreas de Sistema Viário, Trânsito e Transportes.

Até que, em 1983, a convite do prefeito Flávio Chaves (1983/87), Adalberto tornou-se secretário da Seurb. Desempenhou a função até o final do mandato, quando o presidente da Câmara Municipal, Paulo Mendes, chefiou o Executivo em 1987 e 88, após as renúncias de Flávio (para assumir a presidência da Nossa Caixa) e do vice-prefeito Luiz Francisco da Silva (eleito deputado estadual).

Ao assumir a secretaria, preferiu dedicar-se mais às questões relativas ao sistema viário da cidade, enquanto confiou a Yabiku, então chefe de divisão, a função de “braço-direito” para assuntos relativos à área de edificações.

“Tínhamos bastante autonomia: a Seurb era comandada por engenheiros e tomávamos as decisões com base em questões técnicas, sem interferência política”, destaca Adalberto.

“Pensar na cidade e nas pessoas”

Entre as ações desenvolvidas, Yabiku menciona o aprimoramento de projetos de moradia da chamada “Planta Popular”: a Prefeitura passou a oferecer gratuitamente projetos mais bem elaborados incluindo detalhes estruturais, hidráulicos e elétricos; incluindo os respectivos orçamentos.

Adalberto complementa que, inclusive, a fiscalização de obras particulares se intensificou. Por meio de parceria com a Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), estudantes percorriam bairros para vistoriar a construção de casas populares.

Antes mesmo de candidatar-se a vereador, Yabiku atuou intensamente na elaboração e encaminhamento à Câmara Municipal da chamada Lei de Loteamento Popular, possibilitando a implantação de lotes com área mínima de 125 metros quadrados, com cinco metros de frente por 25 metros de fundo.

“O projeto original era de 6m x 22m, mas 5m x 25m acabou sendo aprovado por consenso. Era uma área mínima para que pudesse garantir acesso aos lotes à população de baixa renda” explica Yabiku

Adalberto ressalta que “a partir desta mudança na lei é que muitos bairros, principalmente da Zona Norte, foram implantados”.

Na época, Yabiku cita que diferentes setores da Prefeitura passaram atuar de forma integrada visando diminuir a burocracia na aprovação de projetos. “Era comum a aprovação de uma planta levar cerca de três meses. Mesmo com poucos recursos tecnológicos disponíveis, diminuímos este prazo para a média de uma semana”, revela.

Mudança de mentalidade

Ao assumir a Seurb, em 1983, Adalberto se recorda de uma Sorocaba bastante diferente. Havia três cruzamentos semaforizados: Rua Padre Luiz com a São Bento, Sete de Setembro com Professor Toledo; e da Rua Álvaro Soares com o Viaduto Jânio Quadros (que tinha mão-dupla de direção). Este último operado manualmente por policiais militares;

A cidade carecia de sinalização de solo de placas de orientação e de semáforos.

O engenheiro conta que os pontilhões para a travessia da ferrovia (antiga Fepasa) eram antigos e tinham sido projetados para a passagem de gado, sem calçadas para pedestres e apenas possibilitando a passagem de um carro por vez. A ligação entre as Avenidas Dom Aguirre e Afonso Vergueiro sequer existia, por exemplo.

Adalberto comenta que a primeira atitude como secretário foi investir na qualificação dos servidores, com a promoção de cursos, treinamentos e palestras; a consultoria de especialistas e criação de uma estrutura específica voltada ao sistema viário.

Houve também o início de estudos com dados estatísticos, a partir de levantamentos de acidentes de trânsito e contagens de tráfego para subsidiar estudos e projetos.

“Ali, introduzimos o conceito de engenharia de tráfego e desenvolvemos o embrião do que viria a ser a Secretaria de Transportes”, explica.

A mudança de mentalidade permitiu inclusive que Sorocaba legislasse sobre o uso de cinto de segurança e municipalizasse a gestão do trânsito antes da regulamentação dessas questões pelo Governo Federal.

Novos caminhos

Em 1989, Antonio Carlos Pannunzio tomou posse como prefeito de Sorocaba pela primeira vez e Adalberto deixou a Seurb, enquanto Yabiku assumiu o primeiro mandato como vereador.

Sempre engajado na defesa do servidor público, Yabiku é um dos fundadores e o primeiro vice-presidente da antiga Associação dos Servidores Públicos Municipais (atual Sindicato). Aclamado pelos colegas, foi escolhido, em 1988, como o candidato representante da categoria na Câmara Municipal, sendo eleito como terceiro vereador mais votado.

Ao término da legislatura, em 1992, decidiu não disputar a reeleição e retornou às suas funções na Seurb. Entretanto, candidatou-se novamente em 1996, sendo eleito por cinco mandatos consecutivos. Licenciado para ser secretário de Esporte e Lazer, de janeiro de 2013 a abril de 2016, retornou ao Legislativo para, como costuma dizer, “pendurar as chuteiras” definitivamente em dezembro do mesmo ano.

Durante a primeira gestão Pannunzio, Adalberto voltou a trabalhar exclusivamente na iniciativa privada. Dentre as ações desenvolvidas, atuou nos projetos para remodelação do transporte público de Sorocaba e implantação dos Terminais Santo Antônio e São Paulo, inaugurados em 1992.

No mesmo ano, Paulo Mendes venceu as eleições para prefeito de Sorocaba. Assumiu em 1993 e nomeou Adalberto para comandar, cumulativamente, a Secretaria de Transportes e a Urbes, funções que ocupou até final do mandato, em dezembro de 1996. A partir de então, aprovado em concurso público, permaneceu como engenheiro da Prefeitura até a aposentadoria.

“Andar de cabeça erguida”

Aposentados e associados à AESMS – Adalberto inclusive assinou a ficha n.º 1 – os dois amigos permanecem observadores do cotidiano de Sorocaba, satisfeitos e com a sensação de dever cumprido e com a efetiva contribuição que deram ao desenvolvimento da cidade.

Dos seis mandatos como vereador, Yabiku menciona sua atuação para incluir direitos e garantias aos servidores públicos na Lei Orgânica do Município, nos estudos que resultaram na criação da Funserv, dentre outros benefícios.

Yabiku é autor de projetos que resultaram em novas leis e na atualização da legislação nas áreas de urbanismo, saneamento e meio ambiente, por exemplo, a simplificação dos processos para aprovação de obras residenciais (Lei n.º 6.422/2001 – apelidada de “Lei Yabiku”) e a implantação de sistema online para o licenciamento e regularização de construções e ampliações de casas e salões comerciais com até dois pavimentos (Lei n.º 8.237/2007).

“A burocracia só atrapalha o Poder Público e o cidadão. Perde-se tempo sem necessidade: sempre procurei ser prático e contribuir no que pude. É preciso se organizar para cada vez mais simplificar e acelerar processos”, defende.

Já Adalberto lembra de que participou de muitos projetos e obras. “Posso dizer que contribui com praticamente todo o sistema viário de Sorocaba, seja na fase de projetos, implantação ou modernização. Foi uma vida profissional profícua, honesta e produtiva. Eu e minha esposa criamos nossas filhas com dignidade e posso andar de cabeça erguida em qualquer lugar”, conclui.

Texto: Vinicius Castanho | AEASMS Comunicação

Foto dos entrevistados: Vinicius Castanho

Fotos de Arquivo: Jornal Cruzeiro do Sul, Câmara Municipal de Sorocaba, Prefeitura de Sorocaba e koboyama.com

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