O engenheiro francês Albert Mathieu foi o primeiro a propor a construção de um túnel que ligasse a Inglaterra à França; o ano era 1802. Naquele tempo, as pessoas não deram muita bola à ideia – talvez pensando nas questões políticas e financeiras. Mesmo assim, volta e meia uma proposta para isso era apresentada. Até que em 1973 o assunto voltou à tona com a assinatura do Tratado Anglo-Francês.
A primeira parceria empresarial para a construção do Canal da Mancha foi formada por construtoras britânicas e francesas na década de setenta. E finalmente em 1984 as obras começaram, sendo concluídas em 1994. Agora o transporte de pessoas e mercadorias entre duas das principais potências econômicas do mundo está simplificado, alavancando a economia local e promovendo o turismo.
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Cerca de 120 bilhões de reais foram destinados para a construção do Canal da Mancha. Esse empreendimento monumental envolveu diversos desafios técnicos. Mas, afinal, como poderia ser simples cavar dois túneis paralelos? E cavar túneis no fundo do mar para o transporte de veículos (Eurostar e Le Shuttle) mais um túnel de serviço para manutenção e ventilação? É claro que o projeto era ousado, mesmo para a engenharia moderna!
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Deixando de lado as barreiras políticas, pode-se dizer que o primeiro grande problema enfrentado foi lidar, de modo seguro, com as questões de variação geológica da região. Para contornar a situação, foi preciso utilizar 11 tuneladoras (conhecidas como “tatuzão“) para realizar o trabalho de escavação dos túneis – o que ocorreu sempre em condições desafiadoras, incluindo infiltrações de água e rochas instáveis.
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Para evitar o desmoronamento da estrutura, foi realizado simultanea-mente um revestimento interno, com cada seção do túnel sendo formada por segmentos de concreto. E, aliás, para garantir que os lados britânicos e franceses se encontrassem correta-mente, foram utilizados sonares e radares para mapear o subsolo. No final, tudo deu certo! Começava a nova era na conectividade europeia!
Características gerais da estrutura
- Seção subaquática de 37,9 km – a maior do mundo.
- Diâmetro das cavidades de 7,6 m, garantindo espaço suficiente para o tráfego eficiente.
- E o número total de túneis é três paralelos, com dois dedicados ao transporte ferroviário de passageiros e veículos, enquanto o túnel central serve para ventilação e acesso de manutenção.
A saber, os trens para passageiros Eurostar seguem até Londres, Paris e Bruxelas, percorrendo o Canal da Mancha a uma velocidade média de 160 km/h. Ademais, vale dizer que as passagens transversais foram projetadas para se conectarem os túneis ferroviários ao túnel de serviço para evacuação em caso de emergência. São os sistemas de ventilação que garantem uma circulação mínima e adequada de ar no local.
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Benefícios econômicos e sociais da obra
Desde a sua inauguração, o Eurotúnel só trouxe benefícios para Inglaterra e França. Estima-se que 26% dos produtos trocados entre os países e com a Europa Continental passem pelo canal. Além de facilitar o comércio, essa infraestrutura estimula o turismo, promovendo o intercâmbio cultural. Milhares de passageiros e veículos percorrem a rota todos os anos; a viagem no Eurostar entre Londres e Paris leva mesmo de duas horas e meia, o que antes eram seis horas. Inclusive, a operação do Eurostar é tão eficiente que, em 2020, o trem transportou 2,5 milhões de passageiros, enquanto o Le Shuttle carregou 60 milhões de carros desde a sua apresentação. Esses números destacam a popularidade e a utilidade do Eurotúnel como uma das principais rotas de transporte na Europa.
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Por outro lado, apesar dos benefícios, o Canal da Mancha enfrenta os desafios contemporâneos. Um dos principais problemas é a imigração ilegal. Infelizmente, o túnel se tornou uma rota atrativa para aqueles que buscam entrar clandestinamente no Reino Unido. Isso levou a tomadas de medidas adicionais, como o monitoramento intensificado nas entradas do túnel. Apesar dos pesares, especialmente após o Brexit, com a necessidade de transporte eficiente entre Inglaterra e França continuando a crescer, o Eurotúnel permanece sendo relevante e a desempenhar um papel vital na conectividade europeia. Fonte: https://engenharia360.com