Hipátia ou Hipácia (foto), foi a primeira mulher matemática de que se tem notícia. Ela nasceu em Alexandria no ano de 370. Na Academia daquela cidade, estudou matemática, filosofia, religião, poesia, artes, oratória e retórica. Era, segundo pesquisadores, uma mulher muito atraente. Todavia, manteve-se celibatária. Dizia que já era casada com a verdade (a matemática). Ficou famosa por resolver todos os problemas propostos por matemáticos da sua época. No entanto, por ser considerada neoplatônica e pagã, foi perseguida pelos cristãos fundamentalistas. Num dia do mês de março de 415 foi esquartejada por uma turba de cristãos fanáticos.
Por causa de sua morte, muitos acadêmicos abandonaram Alexandria, marcando o fim do progresso grego na matemática. Durante a subsequente Idade das Trevas na Europa, árabes e hindus assumiram papéis fundamentais para o progresso da matemática. Somente séculos depois, surgiu uma mulher matemática de porte intelectual semelhante ao de Hipátia. Maria Gaetana Agnesi, italiana de Milão, nasceu no dia 16 de maio de 1718.
Foi uma criança prodígio. Aos 13 anos, já dominava sete idiomas. Vivia reclusa, dedicando-se ao estudo de matemática e religião. Queria ser freira, o que não foi aceito pelo pai. Concordou em ficar na casa paterna desde que pudesse viver numa espécie de isolamento. Assim, escreveu “Instituzioni analitiche” (Instituições analíticas), o primeiro livro que abrangia de forma detalhada o cálculo diferencial juntamente com o cálculointegral. Foi o primeiro livro de matemática escrito por uma mulher. Ela foi convidada a lecionar na Universidade de Bolonha, um convite raro em se tratando de uma mulher. Todavia, preferiu dedicar-se às obras de caridade. Morreu num albergue e na miséria, no dia 9 de janeiro de 1799.
Já a russa Sofia Kovalevskaya foi a primeira mulher na história a obter doutoramento em matemática. O doutorado foi obtido na Universidade de Göttingen (cidade da antiga Prússia), hoje integrante da Alemanha). Tempos antes, essa universidade teve como professor Johan Carl Friedrich Gauss — “o princeps mathematicorum” (o príncipe da matemática) ou “o mais notável dos matemáticos”). Como curiosidade, Napoleão, quando invadiu essa cidade, determinou que Gauss fosse preservado. Na verdade, a morte de Gauss foi evitada porque uma matemática francesa, Marie-Sophie Germain, que com ele se correspondia sob o pseudônimo masculino de Monsieur Le Blanc, solicitou ao general encarregado das tropas invasoras que garantisse a segurança de Gauss.
Voltando à russa que não foi tenista: a tese de Kovalevskaya foi sobre equações diferenciais parciais, integrais abelianos (do matemático norueguês Niels Henrik Abel, que morreu com apenas 27 anos) e a estrutura dos anéis de Saturno. A russa era um fera. Com 11 anos colava nas paredes do seu quarto anotações de aulas sobre análise diferencial e integral do famoso matemático russo Mikhail Ostrogradski.
Kovalevskaya estudava escondida do pai porque este achava que matemática era assunto pra homens. Para poder sair da Russia, casou-se, porque seu pai não a autorizaria enquanto fosse solteira. Depois de defender sua tese em 1874, ficou um tempo no ostracismo, uma vez que naquela época o espírito machista predominava no mundo todo. Ela só começou a lecionar em 1884, na Universidade de Estocolmo. Em 1888, ganhou um prêmio da Academia de Ciências de Paris pelo seu tratamento teórico sobre sólidos giratórios.
A russa foi a terceira mulher na história a lecionar em universidades europeias. Antes dela, tivemos Laura Bassi e Maria Gaetana Agnesi, citada anteriormente. Laura Bassi, com apenas 21 anos, foi nomeada professora de anatomia da Universidade de Bolonha, em 1731. É algo muito insólito o fato de que até hoje apenas três mulheres sejam consideradas matemáticas célebres, uma grega (nascida no Egito), uma italiana e uma russa. É claro que tivemos muitas outras mulheres matemáticas que, todavia, não atingiram o nível de celebridade daquelas três.
A predominância masculina na matemática não significa que as mulheres sejam intelectualmente inferiores aos homens. Significa que o espírito machista, que ainda hoje subsiste em muitas culturas, impossibilitou a evolução da mulher em diversas áreas do saber. Algumas religiões, ainda hoje, são exemplos incontestes do tratamento secundário dado às mulheres.
Mesmo em culturas liberais, as mulheres são induzidas a seguirem carreiras das áreas de humanas. Mas a coisa está mudando. Hoje temos um grande número de economistas mulheres que atesta que a mudança está em curso. Suponho que, se o mundo possuísse um número considerável de mulheres dedicadas à matemática, essa disciplina seria bem mais acessível à maioria das pessoas. Ficariam célebres até por isso.
⭐6/6/1946 | ➕1/7/2019)
Engenheiro civil graduado pela Poli-USP (1972), pós-graduado na área de Transportes, Adalberto Nascimento atuou como engenheiro, consultor e professor universitário. Foi o associado n.º 1 da AEASMS, servidor municipal de carreira, ex-secretário de Edificações e Urbanismo (1983/88), de Transportes e presidente da Urbes (1993/96). Escritor, autor de livros de crônicas e curiosidades matemáticas e membro da Academia Sorocabana de Letras. Além de publicados pelo jornal Cruzeiro do Sul, entre outros veículos, seus artigos ilustraram e continuam ilustrando o conteúdo deste site “Coluna do Dal e Desafio do Prof.º Dal”.