Isso só tem acontecido graças às iniciativas de empoderamento feminino nos ambientes das Engenharias, Agronomia e Geociências. Há cerca de 40 anos, por exemplo, as mulheres representavam apenas 4% dos inscritos no Sistema Confea/Crea. Hoje, elas são 15%. Apesar de ainda baixo, o número reflete a crescente entrada delas na área tecnológica, como é o caso de Gabriela Furtado.
Engenheira agrônoma, com 22 anos, ela se formou no Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos. “Quando entrei na faculdade, minha turma tinha 40 alunos. Nós, mulheres, éramos praticamente metade. No final do curso, restaram apenas cinco mulheres entre aproximadamente 15 formandos. Muitas acabaram ficando pelo caminho por diversos motivos”, conta.
Camilla Grossi, 25, formada em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de São Paulo, teve uma experiência parecida, mas a surpresa veio ao ingressar no mercado. “Me sinto orgulhosa de ver que a área ambiental onde atuo é bastante feminina, principalmente por ser no setor portuário. Acredito que a igualdade de gênero deixou de ser um ideal inalcançável. Hoje, há recursos para diminuir as diferenças entre homens e mulheres”, aponta.
Um levantamento realizado pela Gupy, empresa de tecnologia para recursos humanos, comprova essa percepção: em 2020, a engenharia contratou 179% mais mulheres do que no ano anterior. A área também cresceu em trabalho, com um aumento de 76% nas vagas disponibilizadas na plataforma.
“Consegui entrar no mercado logo depois de formada, em uma usina de açúcar e etanol, mas percebi nos homens uma reação de espanto. Apesar disso, tive a sorte de entrar em uma empresa que tem investido na contratação de mulheres”, compartilha Gabriela.
Por outro lado, nem todas tiveram a mesma oportunidade. “Vi mais mulheres na parte acadêmica, conheci poucas formadas atuando. Isso vale até mesmo para mim. Me formei em Engenharia Civil, em 2020, e ainda não consegui entrar na minha área”, fala Nathalia Magrini, 24 anos, graduada pela Universidade São Francisco, de Bragança Paulista. “Sonho em trabalhar, principalmente se for em um time de mulheres, mas cheguei a ver muitas vagas que colocavam o gênero masculino como pré-requisito”.
Mudança de cenário
A transformação comportamental e corporativa não é simples ou rápida, mas vem com ações de promoção da equidade. O Crea-SP reforça o compromisso para que isso aconteça e utiliza como base uma série de agendas propositivas, incluindo o quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que busca alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas a partir de práticas inclusivas.
“É importante dar mais espaço para as mulheres. Isso traz reconhecimento e deixa claro que podemos fazer aquilo que desejamos, além de nos encorajar a buscar nossos sonhos”, declara Ana Flávia Casanova, 23 anos, que cursou Agronomia na Faculdade Dr. Francisco Maeda, em Ituverava.
O plano de ação do Crea-SP, elaborado a partir do Comitê Gestor do Programa Mulher, visa aumentar a proporção de mulheres em lideranças de entidades de classe; alcançar a equidade salarial e acabar com a discriminação nos espaços de trabalho; aproximar mulheres jovens do Conselho e das entidades de classe; aumentar a representatividade entre conselheiras e inspetoras; e trazer novas profissionais para dentro do Conselho – hoje, elas já são maioria dos funcionários (aproximadamente 54%).
“Minha mensagem para as meninas e mulheres que sonham em ser engenheiras, agrônomas ou geocientistas é: nunca desistam do seu propósito profissional. Façam quantos cursos sonharem, se especializem e nunca duvidem da capacidade de vocês. Nós somos mulheres, o que significa que somos fortes, batalhadoras, inteligentes e capazes. A Engenharia em si foi vista como um curso para homens por muitos e muitos anos, mas hoje estamos aqui para provar o contrário”, incentiva Camila.
Capacitação, diversidade e inclusão são unânimes entre as apostas das jovens engenheiras para que o setor se torne mais atraente e acolhedor para as mulheres. Mas, se a dúvida persistir, lembre-se:
- Empresas diversas em gênero têm 93% mais chances de superar a performance financeira daquelas não-inclusivas, segundo estudo que avaliou 700 organizações de capital aberto na América Latina;
- Análise de liderança indica que mulheres são melhores gestoras de crises;
- Relatório mostra que brasileiras têm 34% mais chances de se formarem no ensino superior, em comparação com os brasileiros.
Fonte: Crea-SP