Volta e meia vemos pela TV um posto de combustíveis sendo lacrado por vender gasolina adulterada. É, como outras bandalheiras deste país, uma coisa cíclica. Será que esse problema não pode ser resolvido de uma vez por todas? E os tais “solventes” adicionados não seriam prejudiciais à nossa saúde? Só falam que é danoso para os veículos.
Até 1986, e de forma legal, uma substância extremamente deletéria era adicionada à gasolina. Tratava-se de um composto químico chamado “chumbo tetra etila”, que reduzia as “batidas” do motor e, como veremos, aumentava as do coração. Aquele aditivo foi inventado por um engenheiro mecânico devotado à química — Thomas Midgley Jr. Embora bem-intencionado, ele foi responsável por tornar este mundo bastante perigoso. Não bastasse aquele chumbo, esse engenheiro foi também o criador de outros compostos denominados clorofluorcarbonos, os tais CFCs, usados em “sprays”, refrigeradores e ares-condicionados de veículos. Esses CFCs são devoradores de ozônio. Só isso.
Em 1921, Midgley foi contratado pela General Motors e posteriormente trabalhou para uma “joint-venture” formada por três das maiores corporações norte-americanas: General Motors, Standard Oil e Du Pont. O objetivo dessa união: fabricar “chumbo tetra etila” em larga escala.
O chumbo é uma neurotoxina. Pode causar cegueira, insônia, insuficiência renal, perda de audição, câncer, paralisia e convulsões. Pode danificar de forma irreparável o cérebro e o sistema nervoso central. Tudo isso.
E sob a égide daquela turma poderosa, notícias sobre doenças e mortes de operários causadas pelo chumbo eram abafadas. Chegaram a insinuar que o “pessoal andava meio louco porque trabalhava demais”. Um médico foi contratado para pesquisar sobre o problema. Durante cinco anos, voluntários respiraram e engoliram enormes quantidades de chumbo. Como nada era detectado nas fezes e urinas dos infelizes, o chumbo foi aprovado e considerado inofensivo à saúde. O problema é que o chumbo se acumula nos ossos e no sangue. O tal médico, por conveniência, não era especializado em patologia química.
E, com aquela conclusão, proliferou-se o uso do chumbo: recipientes de alimentos com soldas a base de chumbo, invólucros de pastas de dente com chumbo, etc. Chumbo pra todo lado. Como ele fica para sempre no corpo humano, a humanidade (principalmente os da velha guarda) está entupida desse metal, e em notáveis índices os norte-americanos. Aqui, hoje em dia, um fator adicional de acúmulo de chumbo é a violência. Por balas, nem sempre perdidas.
E não pensem que as pragas citadas foram eliminadas totalmente. Continuam sendo produzidas por multinacionais em países de terceiro mundo. Uma espécie de miopia globalizada pela ganância sem limites. Muita da imundície atualmente produzida na China é decorrente da ambição de empresas inescrupulosas, nem sempre chinesas. São instaladas lá porque, além da maioria da população chinesa trabalhar em regime de semiescravidão, o controle da poluição ambiental é bastante precário. Todavia, a mídia só nos mostra as belezas chinesas, como vistas por ocasião das Olimpíadas. Nas Olimpíadas ficaremos boquiabertos, tal como aqui ficaremos durante os Jogos Pan-Americanos, vivendo um curto período de um belo e seguro Brasil virtual.
Isso tudo me faz pensar nesses galões de água atualmente vendidos aos mangotes. Como serão essas tais fontes minerais de águas puras? Sei não. Se até remédios para o câncer já foram falsificados! E a manipulação desses galões de água? Uma coisa horrenda. Viver é perigoso, conforme o grande escritor João Guimarães Rosa em “Grande Sertão Veredas”. E é mesmo. Virou nosso “modus vivendi”.
Aproveitando o desabafo, não seria o caso de estabelecermos de vez uma forma adequada de coleta de pilhas e baterias inservíveis, mas nocivas ao meio ambiente? Ah bom, somos os campeões de reciclagem do alumínio. Obviamente porque temos milhares de miseráveis que vivem literalmente catando latas. E mesmo com tantos desempregados aqui, empresas nacionais estão abrindo filiais na China. O mundo virou mesmo um negócio da China.
No caso do chumbo, mencionado anteriormente, um cientista americano (Clair Patterson) começou a desconfiar do acúmulo de chumbo na atmosfera. Virou um incômodo e não conseguiram cooptá-lo. Era uma pessoa decente. E, por isso, ele caiu no ostracismo. As verbas para as pesquisas que realizava foram canceladas por pressão daquelas empresas poderosas.
E o engenheiro Thomas Midgley? Ficou paralítico por causa da poliomielite. E, inventor que era, bolou uma traquitana para movimentá-lo e que também possibilitasse a ele levantar da cama. Era uma parafernália de roldanas e cordas e, num mau funcionamento do mecanismo, o engenheiro acabou sendo enforcado pelo próprio invento. Midgley morreu no Dia de Finados de 1944, aos 55 anos de idade.
OBS: este artigo foi escrito antes dos Jogos Olímpicos da China.
(⭐6/6/1946 | ➕1/7/2019)
Engenheiro civil graduado pela Poli-USP (1972), pós-graduado na área de Transportes, Adalberto Nascimento atuou como engenheiro, consultor e professor universitário.
Foi o associado n.º 1 da AEASMS, servidor municipal de carreira, ex-secretário de Edificações e Urbanismo (1983/88), de Transportes e presidente da Urbes (1993/96).
Escritor, autor de livros de crônicas e curiosidades matemáticas e membro da Academia Sorocabana de Letras. Além de publicados pelo jornal Cruzeiro do Sul, entre outros veículos, seus artigos ilustraram e continuam ilustrando o conteúdo deste site “Coluna do Dal e Desafio do Prof.º Dal”.