Alberto Caeiro nasceu em Lisboa no ano de 1889. Foi um jovem de compleição frágil e morreu de tuberculose em 1915, ou seja, com apenas 26 anos. Passou quase a vida toda no campo e escreveu, entre outras coisas, “O Guardador de Rebanhos” (“Sou um guardador de rebanhos./ O rebanho é os meus pensamentos…”), “Poemas Inconjuntos” e “Pastores Amorosos”. Caeiro foi o poeta do campo e da natureza.
Ricardo Reis nasceu em 1887 na cidade do Porto. Estudou em colégio de jesuítas e formou-se médico. Era um indivíduo muito sóbrio e adepto da monarquia. Imigrou para o Brasil em 1919. Possuidor de personalidade refinada, Reis foi autor de poesias com ideias elevadas e de odes (composições de caráter lírico com estrofes simétricas), das quais as mais representativas são a “Ode Triunfal” e a “Ode Marítima”.
Álvaro de Campos, nasceu no Algarve, em 1890. Estudou num liceu de Lisboa e depois foi para a Escócia, formando-se engenheiro naval pela Universidade de Glasgow. Num período de férias foi para o Oriente e lá adquiriu o vício do ópio, evidenciado na obra “Opiário” (“É antes do ópio que a minh´alma é doente…”).
Muita gente já deve estar sabendo do que se trata esse breve resumo. Breve e simples, mas que tem como finalidade despertar novos leitores para as obras desses poetas. Poetas que, na verdade, são os principais heterônimos de Fernando Pessoa. Heterônimos não são pseudônimos. Um pseudônimo é utilizado por um escritor para escrever sob um nome diferente do seu. Muitas personalidades valeram-se de pseudônimos, como Allan Kardec (que se chamava Hippolyte León Denizard Rivail), Malba Tahan (Júlio César de Mello e Souza), Pablo Neruda (Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto) e Voltaire (François Marie Arouet).
Já heterônimos ocorrem quando o autor assume outras personalidades como se fossem reais (talvez uma espécie de psicose). O criador de um heterônimo é designado como ortônimo. Ou seja, Fernando Pessoa é o ortônimo daqueles heterônimos mencionados: Alberto Caeiro, um mestre bucólico; Ricardo Reis, um neoclássico estoico; Álvaro de Campos, um poeta futurista, de personalidade indisciplinada. Esses são os mais conhecidos. Ele construiu dezenas. E até um semi-heterônimo (Bernardo Soares) — autor de “Livro do Desassossego”.
Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, no dia 13 de junho de 1888, e lá morreu em 30 de novembro de 1935, com apenas 47 anos, de cólica hepática. Esse gênio, que em si não coube, criou muitas personalidades com estilos próprios e vidas independentes. Chegou até a produzir biografias e horóscopos de suas criaturas. Todavia, nas biografias de Ricardo Reis e de Álvaro Campos, não constam suas mortes.
Não é possível aqui resumir as sutilezas, contradições e belezas das obras desse grande poeta português. Só lendo-as. E relendo-as. Em “Passagens das Horas”, de Álvaro de Campos, temos um trecho que talvez sintetize as múltiplas personalidades de Fernando Pessoa: “Sentir tudo de todas as maneiras, /Viver tudo de todos os lados, /Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo / Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos / Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo”.
O leitor de primeira viagem sentirá uma certa estranheza com algumas passagens ambíguas ou de difícil compreensão. Sugerimos que não desanime e que vá adiante, mesmo que aos trancos e barrancos. Ao se deparar com certas coisas, dessas que faz a gente fechar o livro e ficar pensando no que foi lido, poderá, com certeza, ter se transformado em mais um dos apaixonados das obras de Fernando Pessoa. E verá que ele e seus heterônimos são, na verdade, uma só Pessoa.
A internet está repleta de informações sobre esse genial português. Recomendo ao leitor visitar a página: www.secrel.com.br/jpoesia/pessoa.html. É excelente. E, também, alerto para que fique atento a determinados textos atribuídos ao poeta. Muitos deles são feitos por engraçadinhos e nada tem a ver com os escritos de Pessoa. É algo que também acontece com Drummond, Garcia Marquez e tantos outros. Isso, na verdade, reforça a importância do objeto livro. Somente através da leitura de livros as pessoas tornam-se imunes a essa bobagens.
Para ser um autêntico Pessoa, tem que ser algo “intrigantemente belo”. Reparem nisto: “A criança que ri na rua, /A música que vem no acaso, / A tela absurda, a estátua nua, / A bondade que não tem prazo -? Tudo isso excede este rigor / Que o raciocínio dá a tudo, /E tem qualquer coisa de amor, / Ainda que o amor seja mudo”.
E, para os neófitos, nada melhor do que “Tabacaria”: “Não ou nada, /Nunca serei nada. /Não posso querer ser nada. /À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo… “. E assim vai, belo como são os escritos das pessoas do Pessoa.
⭐6/6/1946 | ➕1/7/2019)
Engenheiro civil graduado pela Poli-USP (1972), pós-graduado na área de Transportes, Adalberto Nascimento atuou como engenheiro, consultor e professor universitário. Foi o associado n.º 1 da AEASMS, servidor municipal de carreira, ex-secretário de Edificações e Urbanismo (1983/88), de Transportes e presidente da Urbes (1993/96). Escritor, autor de livros de crônicas e curiosidades matemáticas e membro da Academia Sorocabana de Letras. Além de publicados pelo jornal Cruzeiro do Sul, entre outros veículos, seus artigos ilustraram e continuam ilustrando o conteúdo deste site “Coluna do Dal e Desafio do Prof.º Dal”.