Elisangela Mazzutti formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (campus de Frederico Westphalen). Atualmente, é bolsista em mestrado na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), uma fundação vinculada ao Ministério da Educação, na mesma área, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Seus estudos abrangem a pegada de carbono das fundações geotérmicas frente às convencionais a partir da análise do ciclo de vida para identificar seu impacto ambiental.
O que é a climatização geotérmica?
A climatização geotérmica é uma tecnologia que pode utilizar fundações de casas ou edifícios que já estão sendo construídos, valas, poços ou lagos. Nesses ambientes, são acopladas tubulações por onde passa água – quente ou fria – fazendo a troca térmica entre o interior da edificação com a água de lagos ou poços, ou com o solo. Essa tubulação estáacoplada a uma bomba, que faz a troca de calor com um segundo circuito dentro do ambiente. Isso reduz muito o consumo de energia elétrica, se comparado, por exemplo, à energia utilizada pelos ares-condicionados atuais. O que nós estudamos e tentamos popularizar é sua utilização nas fundações de qualquer casa ou edifício.
Essa técnica já é usada no Brasil?
Esse projeto é extremamente incipiente no Brasil. Temos conhecimento de uma residência no Rio de Janeiro que foi construída usando climatização, mas muito antigamente. Então, a tecnologia usada, nesse caso, não é o que a gente tem de mais inovador e o que estudamos na academia. Temos alguns grupos de estudo na UFPR e na Universidade de São Paulo (USP) tentando viabilizar a técnica, porque um dos maiores problemas, hoje, é que a tecnologia está sendo muito bem utilizada na Europa, mas aqui ainda temos que compreender as características geotérmicas do nosso solo, que é muito diferente do solo da Europa. Também precisamos de equipamentos, que aqui são muito caros, então há alunos tentando construir esses equipamentos.
Mesmo assim, a possibilidade do uso da tecnologia tem se expandido para outras áreas como a avicultura e a suinocultura. Descobrimos que a ave se aquece pelo pé, então se o piso estiver quente, vai aquecer mais facilmente o animal. Nas maternidades da suinocultura, também vislumbramos potencial, já que o porquinho fica direto em contato com piso, que pode estar quentinho.
Que vantagens essa tecnologia tem?
A climatização geotérmica começa com um consumo de energia muito menor do que o usado por um climatizador convencional. A emissão de carbono, já que tem menos utilização de energia, é muito menor. Além disso, o custo-benefício acaba sendo muito bom, porque a fundação já está sendo construída, o que precisa ser feito é só colocar a bomba de calor e as tubulações, o que não gera um custo muito maior.
Estudos que utilizamos com base na literatura internacional, mostra que as bombas de calor produzidas no Brasil são cerca de 3 a 4 vezes mais eficientes do que um motor de ar-condicionado normal, o que vai gerar menos energia elétrica num determinado período de vida.
Além disso, há uma crescente preocupação das empresas em seguir a agenda ESG e diminuir suas emissões de carbono, há uma alta valorização da comercialização dos créditos de carbono, então a importância dessa pesquisa tem ganhado relevância. Considerando que o setor de construção é responsável por cerca de 40% do total global de emissões de gases do efeito estufa (GEE), o trabalho se mostra crucial para incentivar o uso da climatização geotérmica e diminuir as emissões das empresas.
Qual o resultado esperado?
O tema é inovador. Nós, engenheiros, vamos aos congressos e quando falamos sobre esse método para quem não é da área, as pessoas não fazem ideia de que isso existe. Hoje não há livros no Brasil, nem mesmo traduzidos, que abordem sobre o assunto. Quem vai construir uma casa, sequer sabe o que é isso, então fazemos um trabalho, também, de divulgação. O cálculo de uso da climatização deve ser simples para os engenheiros dentro das construtoras. A pesquisa pode ser parâmetro para o cálculo de emissões de suas fundações, por exemplo: se eu tenho x de concreto na minha fundação, ela é tantos por tantos metros, tem y de aço, então a minha emissão vai ser z. Parece complicado, mas não é.
Em resumo, espero que os resultados desta pesquisa possam contribuir significativamente para a conscientização e adoção de práticas mais sustentáveis na indústria, levando a um futuro mais limpo e verde para todos.
Legenda das imagens:
Banner e imagem 1: Tubulações são colocadas na parede de uma casa (Foto: Naiara Demarco – CGCOM/CAPES)
Imagem 2: A pesquisadora Elisangela Mazzutti em laboratório (Foto: Naiara Demarco – CGCOM/CAPES)
Imagem 3: Os estudos abrangem a pegada de carbono das fundações geotérmicas (Foto: Naiara Demarco – CGCOM/CAPES)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
Fonte: https://www.gov.br/capes