Conhecer a causa que prejudica o desempenho do piso é fundamental para especificar a melhor solução. Erros de projeto, de execução ou uso inadequado são as mais comuns
O piso de concreto tem como uma de suas principais vantagens a alta durabilidade, característica que fica comprometida com o surgimento de patologias. Assim como qualquer elemento construtivo, esse tipo de pavimento está suscetível a diferentes problemas, que podem prejudicar seu desempenho. A origem das falhas é variada, podendo ser resultantes de erros de projeto, execução ou uso.
A instalação inadequada e cargas elevadas, por exemplo, dão origem a trincas e fissuras. Já o aparecimento de manchas tem como uma das causas o contato com substâncias químicas — incidente bastante comum por se tratar de piso comumente especificado para empreendimentos industriais. A escolha de concreto com nível de resistência inadequado durante a elaboração do projeto pode resultar no desprendimento da camada superficial.
“Quando se trabalha com material heterogêneo como o concreto, que tem comportamento específico em cada região devido às características dos insumos disponíveis no local, é difícil afirmar qual o maior causador de manifestações patológicas”, destaca o engenheiro Breno Macedo Faria, diretor de concreto da Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho (Anapre).
O estudo prévio do problema, que detecta sua origem, é o primeiro passo para o planejamento da recuperação de pisos de concreto. Somente com conhecimento pleno do tipo de falha existente é possível traçar o melhor caminho para alcançar a solução mais apropriada. Veja, a seguir, as patologias mais comuns:
Resistência ao desgaste deficiente
A resistência ao desgaste deficiente, caracterizada pelo desprendimento do material superficial do piso, pode ser causada por: projeto inadequado (falta da especificação da classe de resistência à abrasão), uso de concreto com baixa resistência à compressão e aspersão de água sobre a superfície durante a execução, técnica empregada a fim de facilitar o acabamento.
“Para recuperar desgastes abrasivos leves, quando quase não há formação de pó e exposição pouco significativa dos agregados, é recomendada a lapidação leve do piso. Na sequência, é usado um endurecedor”, recomenda Faria.
Já se a situação for moderada, com pó em excesso e agregados expostos, a lapidação precisa ser mais forte e seguida da aplicação de endurecedores com alta performance ou com base de resina epóxi. Desgastes abrasivos intensos, com desagregação dos agregados e grande formação de pó, podem indicar que a estrutura está condenada, sendo necessárias interferências severas como a demolição e a reconstrução da área.
“Nos casos em que o piso não foi totalmente comprometido pode ser prevista a aplicação de revestimento, desde que a superfície tenha condições para isso”, afirma o engenheiro.
Delaminação
A delaminação é considerada uma das manifestações patológicas mais complicadas de ser diagnosticada. O motivo da dificuldade é a variedade de fatores que podem causar o problema. “A delaminação pode estar relacionada com a produção do concreto ou com a execução do próprio piso”, explica Faria.
Entre as razões que colaboram para seu surgimento estão o alto teor de argamassa no concreto, elevado nível de ar incorporado e excesso de exsudação. “Também é possível mencionar a heterogeneidade na mistura do concreto, a grande quantidade de materiais pulverulentos nos agregados, a deficiência na incorporação dos agregados aspergidos sobre o concreto, o acabamento prematuro e a aspersão de água sobre a superfície do piso durante a fase final da execução”, enumera o profissional. A recuperação da delaminação é realizada com a aplicação de argamassa cimentícia ou à base de epóxi.
Fissuras
As fissuras podem ser classificadas em três grupos: retração do concreto, travamento da placa ou estrutural. Na primeira categoria estão aquelas que surgem pelo uso de concreto com alto teor de água ou que sofrem com a ausência de fibras de polipropileno. “Corte atrasado das juntas ou com baixa profundidade, além da falta de reforços em pontos específicos e incidência direta de sol e vento também causam fissuras”, aponta Faria.
Já as que têm origem por travamento da placa, normalmente são provocadas por falhas executivas que impedem a livre movimentação da estrutura. Geralmente, o bloqueio é causado pela não conformidade das barras de transferência ou por irregularidades na superfície da sub-base.
Por fim, as fissuras estruturais ocorrem por erros em diferentes etapas. Podem ser resultados de falhas no dimensionamento do projeto ou problemas durante a execução, como deficiência na fundação do piso ou não conformidade da armadura principal. Elas também aparecem devido à aplicação de cargas acima do limite suportado.
O procedimento para recuperação das fissuras depende, basicamente, do tamanho da abertura. As que têm menos de 0,3 mm devem receber, no mínimo, duas demãos de endurecedor de superfície, de preferência à base de lítio. Se tiverem entre 0,3 e 1 mm precisam ser seladas com epóxi de baixa viscosidade. Quando a abertura for superior a 1 mm, é recomendada a ‘costura’ da fissura, executada com vergalhões de aço ou fibras de carbono. “É importante destacar que em casos mais graves, a demolição da placa pode ser necessária, com posterior reconstrução”, ressalta Faria.
Manchas
As manchas podem significar que o endurecedor de superfície foi usado de maneira equivocada. É sinal de que a mistura não estava homogênea ou de que não foi feita a limpeza da superfície logo após a aplicação do produto. Essa manifestação patológica também pode surgir quando há alguma junta fria no piso ou ser formada no processo de cura. Outra causa do problema é a impregnação de materiais durante a utilização do piso.
“As manchas em pisos de concreto tendem a perder a intensidade após a liberação para o tráfego de veículos. Entretanto, caso o cliente dê muita importância à estética, pode-se realizar o polimento da superfície ou a aplicação de revestimento”, comenta Faria.
Falhas no revestimento
Grande parte das manifestações patológicas que atingem os revestimentos está relacionada com a má preparação da superfície, aplicação precoce do acabamento ou execução malfeita. A resolução do problema quase sempre envolve a remoção e a reinstalação da solução escolhida.
Juntas esborcinadas e juntas frias
Outras duas manifestações patológicas comuns em pisos de concreto são as juntas esborcinadas e as pegas diferenciadas do concreto — conhecidas popularmente como juntas frias. Na primeira situação, há grande impacto na operação logística do empreendimento. “O problema pode ocasionar desde a quebra das rodas da empilhadeira até o fechamento de áreas inteiras em casos mais graves”, destaca o engenheiro.
As juntas esborcinadas ocorrem, geralmente, em pontos que sofrem com tráfego intenso de empilhadeiras com rodas rígidas. A origem do problema está no acúmulo natural de argamassa nas bordas das juntas, o que as deixa mais frágeis. Para evitá-lo, o principal cuidado é prever, ainda na fase de projeto, a execução de lábios poliméricos nas áreas de maior risco. Para a recuperação pode-se adotar a mesma solução.
Já as juntas frias acontecem quando os caminhões de concreto são recebidos com intervalo superior a 20 minutos, com dosagens diferentes de aditivos ou com abatimentos desiguais (acima de 10 mm). Além de afetar a estética, a pega diferenciada impacta diretamente nos índices de planicidade e nivelamento (F-Number).
Quando o problema é somente visual, costuma-se não realizar nenhum procedimento de recuperação. “Isso acontece porque a tonalidade vai se tornando uniforme com a liberação das operações sobre o piso”, diz o especialista. Contudo, quando há elevada exigência dos índices de F-Number, o desbaste pontual superficial pode ser feito. “Em alguns casos, a demolição total da placa se faz necessária”, ele completa.
Sempre vale a pena recuperar ?
Apesar de, na maioria das vezes, ser possível acabar com as patologias, em algumas situações, não vale a pena. “Quando há muitos problemas distribuídos por todo o empreendimento é preciso analisar previamente o custo das intervenções. O valor deve ser comparado com o de uma demolição e futura reconstrução”, finaliza Faria.
Fonte: AEC Web
Foto: Carlos André Santos / Shutterstock