Coluna do Dal

Da nanotecnologia

Em 1909, durante um seminário da Sociedade Alemã de Zoologia, o professor Hans Lohmann propôs chamar de “Nannoplankton” as minúsculas algas que ele estudara em seu microscópio óptico.

Aquela denominação, segundo o professor, decorria do fato de “nannos” ser a tradução grega da palavra alemã “Zwerg”, que significa “anão”.

A utilização do prefixo “nanno” foi a forma que Lohmann encontrou para designar coisas de dimensões inferiores ao micrômetro. O micrômetro é a milionésima parte do metro, ou seja, a milésima parte do milímetro – um quase-nada.

Em outubro de 1958, a Comissão Internacional de Pesos e Medidas definiu o nanômetro com sendo a bilionésima parte do metro. Ou seja, um milésimo da milésima parte do milímetro. A milésima parte de um quase-nada. Um quase-nadica, conforme terminologia sorocabana.

Ainda bem que nenhuma “Instituição de Dois Pesos e Duas Medidas” do nosso país fez parte daquela comissão. Todavia, é possível que vários nanocongressistas tenham ido àquele evento arretado em Paris.

O leitor atento poderá questionar: nanno ou nano? A Comissão ficou com nano (anão, em latim) para respeitar a regra então vigente: prefixos gregos para múltiplos e latinos para submúltiplos.

Por isso, o prefixo múltiplo de 1000, “quilo”, vem do grego “khilioi”, enquanto que o milésimo vem do latim “millesimus”. Ou seja, nós – latinos que somos –, como sói acontecer, ficamos com as migalhas.

Por causa da evolução tecnológica, a utilização de novas raízes linguísticas tornou-se necessária. Assim, por exemplo, temos: “giga” (do grego “gigante”) para dez elevado a nove, e “tera” (do grego “monstro”) para dez elevado a doze.

Como podemos inferir, em nosso país, os políticos recebem em proporções gregas, enquanto que o povão em desproporções latinas. Muitos ladinos, entretanto, recebem vales-presentinho de gregos.

Em 1974, Norio Taniguchi, especialista japonês em ciências dos materiais, criou a palavra “nanotecnologia” para a técnica de fabricação de materiais com precisão da ordem do nanômetro.

A materialização da ideia de Taniguchi tornou-se possível a partir de 1981, com a invenção do microscópio de tunelamento. Essa invenção valeu ao alemão Gerd Binnig e ao suíço Heinrich Rohrer o prêmio Nobel de Física de 1986.

A explicação sobre esse microscópio exige um livro, com a utilização de termos técnicos complicadíssimos. Apenas como dica sobre a designação, podemos dizer que é um “microscópio eletrônico de varrimento por efeito de túnel”. Capisce?

Sem estresse – o importante é saber que, espantosamente, esse aparelho permite deslocar átomos um a um. Com tal tecnologia é possível construir estruturas átomo a átomo, como, por exemplo, “uma máquina minúscula capaz de funcionar como uma grande máquina”. Essa é, em essência, a tal nanotecnologia preconizada por Taniguchi.

Hoje, todavia, o termo nanotecnologia tem sido utilizado de forma generalizada para as diferentes técnicas que permitem fabricar objetos diminutos, com precisão da ordem de nanômetro. Vamos, sucintamente, citar alguns fatos ilustrativos dessa “nano-história”.

Em 1947, pesquisadores americanos da Bell Telephone Company criaram um dispositivo que utilizava um pequeno cristal semicondutor capaz de ampliar sinais elétricos e que foi denominado transistor.

Em 1958, a Texas Instruments criou a primeira versão de circuito integrado. Pouco depois, a Fairchild Semiconductor colocou os componentes de um circuito sobre uma plaqueta de silício, eliminando fios de conexão entre os elementos. Estava criado o chip. Nada a ver com batatas.

Em 1971, a Intel Corporation produziu o primeiro microprocessador, cujo chip continha 2.250 transistores.

Em 2006, um chip foi construído do tamanho de uma unha, contendo 80 milhões de transistores de 90 nanômetros. E, desde 2008, temos transistores de 45 nanômetros. Extremamente pequenos – 100 vezes menores que um glóbulo vermelho.

É interessante salientar que o “micro” foi desenvolvido para conquistar o “macro”. Na conquista do espaço, foi fundamental a miniaturização de dispositivos eletrônicos para ganho de espaço e diminuição de pesos de foguetes, satélites, mísseis etc.

Enfim, de todas as “nanocoisas” existentes, lembro-me com saudade de um radinho “transistor” a pilha, marca Mitsubishi, que ganhei do meu pai quando fui estudar em São Paulo. Aquele radinho foi meu “nano-amigo” – companheiro inseparável nas horas de infinitas amarguras de um caipira em cidade grande.

Tal radinho, entretanto, virou peça de museu diante da tecnologia desenvolvida por outros países. A Coréia do Sul, que já faz pesquisas avançadas em nanobiolobia, é um exemplo. Lá, educação é assunto de Estado. Aqui, com raríssimas exceções, virou mais um negócio espúrio – uma forma perversa de vender diplomas inúteis.

Por causa disso, continuaremos nanicos!

 

 

Adalberto Nascimento

Associado n.º 1 da AEASMS, servidor municipal aposentado, ex-secretário de Edificações e Urbanismo (1983/88), de Transportes e presidente da Urbes (1993/96).

Engenheiro civil graduado pela Poli-USP (1972), é pós-graduado na área de Transportes, atua como engenheiro, consultor e professor universitário.

É escritor, autor de livros de crônicas e curiosidades matemáticas e membro da Academia Sorocabana de Letras. Escreve quinzenalmente neste espaço

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