Coluna do Dal

De hormônios

Um dos objetivos dos alquimistas era a obtenção do Elixir da Vida ou Elixir da Imortalidade, ou seja, uma panaceia que pudesse curar todas as doenças, prolongando a vida indefinidamente. Na verdade, a imortalidade nunca deixou de ser desejada pelos seres humanos. Prova disso é a quantidade de obras literárias sobre esse assunto.

A seguir, nosso relato baseia-se em leitura do livro “The Story of Science (Power, Proof and Passion)”, de Michael Mosley e John Linch.

Por volta de 1880, um médico francês supôs, embora de forma insólita, ter descoberto o tal elixir. Ele chegou até a publicar um livro cujo título, nada criativo, era “O elixir da vida”.

Suas experiências levaram em conta a ideia dos vitorianos ingleses de que a ejaculação produzia debilidade mental e física proporcional à sua frequência. Assim, a abstinência sexual mantinha os níveis de energia vital. Por isso, eles eram visceralmente contra a masturbação. Ou seja, para o médico francês, absorver algo dessa energia vital prolongaria a vida.

O tal elixir do médico e professor francês, Charles-Édouard Brown-Séquard (isso mesmo, com hífens no nome e sobrenome), consistia de testículos de cães e porquinhos-da-índia triturados (depois da retirada do sangue) e misturados com sêmen humano. E o referido professor, com 72 anos, injetava a poção obtida em seus braços e pernas. Fazendo isso, ele dizia que rejuvenescia uns trinta anos.

E não é que a crença de Brown-Séquard teve seguidores com métodos mais ousados? Em 1914, o americano George Frank Lydson realizou em si mesmo um transplante de testículos. Na prisão de São Quentin ocorreram cerca de mil transplantes de testículos de prisioneiros executados para outros prisioneiros condenados, com muitos relatos de efeitos rejuvenescedores.

Muitas celebridades quiseram também ser transplantados. Afinal, não existe nada mais desolador e angustiante do que ser célebre e rico diante do fato de que a morte é inexorável. Infelizmente, a não existência do tal elixir faz muita gente se iludir com plásticas, silicones, botox e “otras cositas mas”.

Enfim, descobriu-se que o responsável por aquela sensação de jovialidade do professor francês, além do efeito placebo, era o hormônio denominado testosterona.

Em 1927, um professor da Universidade de Chicago, Fred Koch, descobriu um jeito de extrair testosterona de testículos de touros. Mas dava um trabalhão danado: para a obtenção de 20 miligramas de testosterona, eram necessários 18 quilos de testículos, além da submissão àqueles olhares bovinos de tristeza. Koch percebeu que, algum tempo depois de injetar testosterona em porcos e ratos castrados, esses animais ficavam meio que “remasculinizados”.

Na década de 1930 teve início a produção de testosterona sintética. Posteriormente, comprovou-se que esse hormônio é fundamental para o desenvolvimento do corpo masculino. Se o feto, entre a sétima e a décima-segunda semana depois da concepção, receber grandes doses de testosterona, adquire características masculinas. E porque os homens têm mamilos? É que eles são formados antes da primeira dose de testosterona.

Pensando na anatomia masculina, lembrei-me de uma questão muito antiga: Adão tinha umbigo? Essa dúvida deixou muitos artistas atrapalhados sobre de que forma representar não só Adão, mas também Eva. Suponho que o leitor que nunca pensou sobre isso fique também meio perplexo por causa dessa questão.

Deixemos isso para lá, pois já foi objeto de infindáveis discussões. Continuemos com o nosso papo “hormonicamente”. Os hormônios são fundamentais para o ser humano e são produzidos apenas por alguns órgãos: as glândulas pineal e pituitária (hipófise), no cérebro; a tireóide, na garganta; o timo, no tórax; as glândulas suprarrenais, sobre os rins; o pâncreas; os ovários e os testículos.

Como curiosidade, Descartes considerava a glândula pineal um órgão com funções transcedentais, o ponto da união substancial entre corpo e alma. O interesse por essa glândula é bastante antigo, sendo que os primeiros estudos sobre ela datam de 300 anos antes de Cristo. Por causa de sua localização, sua forma de pinha e também devido à sua semelhança estrutural, é considerada por algumas correntes religioso-filosóficas como um terceiro olho.

A progesterona, descoberta na década de 1930, causou muito impacto pelo fato de esse hormônio impedir a ovulação nas mulheres, mas a sua obtenção de animais era caríssima. Em 1941, um professor da Universidade da Pensilvânia conseguiu sintetizá-la a partir de inhames mexicanos, tornando-se um anticoncepcional com efeitos colaterais indesejáveis, mas que foram corrigidos com a adição de estrogênio.

Pois é. Começamos a falar sobre prolongar a vida e terminamos, paradoxalmente, falando sobre evitar vida. C´est la vie…

 

Adalberto Nascimento

Associado n.º 1 da AEASMS, servidor municipal aposentado, ex-secretário de Edificações e Urbanismo (1983/88), de Transportes e presidente da Urbes (1993/96).

Engenheiro civil graduado pela Poli-USP (1972), é pós-graduado na área de Transportes, atua como engenheiro, consultor e professor universitário.

É escritor, autor de livros de crônicas e curiosidades matemáticas e membro da Academia Sorocabana de Letras. Escreve quinzenalmente neste espaço.

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