Coluna do Dal

Do Big-Bang

Se você estiver desacorçoado com os programas de televisão, não desanime. Você não sabe, mas poderá ver uma coisa fantástica. Basta sintonizar um canal fora do ar e ficar vendo aqueles chuviscos.

Depois de pouco tempo, isso ficará entediante e até irritante. Todavia, segundo os físicos, um por cento daquela “estática saltitante” é da energia proveniente do Big-Bang que deu início ao nosso universo. Esses físicos têm cada teoria…

Você poderá diminuir o volume do som (porque é desagradável) e, tomando uma cervejinha, dizer solenemente que está assistindo a uma filmagem do começo do mundo. E, segundo os cientistas, isso é mesmo verdade. E talvez seja mais interessante do que ver outros canais cujos programas parecem prenunciar o fim do mundo.

O termo “Big-Bang”, de tanto ser repetido, já é usado pela maioria das pessoas, sem discussão alguma sobre o seu significado. Já faz parte do imaginário coletivo e fim de papo – mesmo que ininteligível para a maioria.

Na nossa infância tínhamos os filmes de “bang-bangs” e músicas das “big bands”. E o que era ficção acabou virando realidade: hoje somos um país de “bang-bangs” entre “big gangs”. E, curiosamente, em português de Portugal já li Big-Bang traduzido como Grande-Pum…

Na verdade, Big-Bang é o termo que acabou consagrado por seu “impacto” e, por isso, acabou aceito pelo público. Segundo os físicos, o universo começou com uma súbita e colossal expansão e, por acaso, estamos nos expandindo num específico Big-Bang. Os teóricos admitem que haja infinitos universos e que trilhões de trilhões de Big-Bangs já ocorreram – e tantos outros ocorrem e ocorrerão. Isso tudo é tão complexo que um famoso biólogo americano (J.B.S. Haldane) afirmou: “O universo não é apenas mais estranho do que supomos; ele é mais estranho do que conseguimos supor”.

Os conceitos do “Big-Bang” tiveram como suporte a teoria da relatividade de Einstein. Assunto sobre o qual todo mundo fala, poucos dizem entender, e talvez ninguém entenda completamente. Fica uma coisa meio que circunscrita a um tipo de frase saborosamente pronunciada por algum cantor-filósofo baiano: “Tudo é relativo, ou não”.

Einstein ficou mais conhecido por causa daquela foto com os cabelos desgrenhados e com a língua de fora. Essa foto foi tirada em Princeton (universidade americana), na comemoração dos seus 72 anos, quatro anos antes da sua morte por causa de um aneurisma na aorta. Dizem que um fotógrafo solicitou-lhe que sorrisse e ele, irreverentemente, mostrou a língua daquele jeito exagerado.

Einstein ficou famoso não só por essa foto, mas pelo seu cérebro privilegiado – que acabou sendo roubado pelo médico que lhe fez a autópsia. Foi daquele cérebro que brotou uma revolução sobre as idéias de espaço e tempo. Muita gente, desprezando a importância daquela cabeça genial, diz que Einstein foi reprovado no primeiro vestibular da Escola Politécnica Suíça de Zurique. Todavia, o pessoal omite que o criador da teoria da relatividade tinha, naquele exame, pouco mais de quinze anos.
A teoria de Einstein é bem complexa no tocante à relatividade do tempo. Mas de que o tempo é relativo os brasileiros têm perfeita consciência e vivência. Quem não sabe que em determinados órgãos públicos a unidade de tempo é outra? E que o tempo é, de fato, uma coisa subjetiva? Cinco minutos esperando o ônibus demora mais do que cinco minutos viajando no ônibus. E os tais “só mais um minutinho” que demoram uma eternidade?

Na realidade, Einstein desenvolveu duas teorias: a da relatividade restrita e a da relatividade geral. Temas complexos e evidentemente impossíveis de serem aqui resumidos. Ficou-nos daquilo tudo a famosa equação, simples e enigmática, em que a “energia é igual à massa vezes a velocidade da luz elevada ao quadrado – (E=mc2)”. Muitos ficam intrigados sobre o uso da letra “c” para simbolizar velocidade. Acredita-se que foi adotada como inicial da palavra “celeridade”.

Dentre os conceitos complexos da teoria, Einstein precisava provar o encurvamento do espaço perto do Sol. E essa prova ele fez durante um eclipse em 1919, quando estava em nosso país, mais especificamente em Sobral, no Ceará. Ele também esteve no Rio de Janeiro, onde ficou hospedado na suíte 400 do hotel Glória. Dizem que ficou maravilhado com as nossas cabrochas e delas tirou muitas fotos. Deve ter comido feijoada e ficado vermelho como pimentão após as “caipirrinhas” que todo alemão adora.

E o famoso cientista foi embora feliz. Com a sensação, talvez, de que tudo é mesmo relativo e até paradoxal, já que parte da sua sofisticada teoria precisou ser confirmada em um lugar tão simples. Mas que foi um eclipse arretado, foi!

 

Adalberto Nascimento

Ex-secretário de Edificações e Urbanismo (1983/88), de Transportes e presidente da Urbes (1993/96), é engenheiro civil graduado pela Poli-USP (1972), pós-graduado na área de Transportes, atua como engenheiro, consultor e professor universitário.

Associado n.º 1 da AEASMS e servidor municipal aposentado, é escritor, autor de livros de crônicas e curiosidades matemáticas e membro da Academia Sorocabana de Letras. Escreve quinzenalmente neste espaço

Foto: rolscience.net

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