Educação Engenharia Geral Universidade

Unesp e Abenge debatem novas propostas para cursos de Engenharia

Campus Sorocaba participa de videoconferência com demais unidades.

A proposição está em discussão no Conselho Nacional de Educação

 

A convite da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o presidente da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge) Vanderli Fava de Oliveira, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), apresentou a proposta das novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o ensino da engenharia no país.

A proposição, que está em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE), foi elaborada pela Comissão Nacional para Elaboração de Proposta de Diretrizes Inovadoras para a Engenharia, composta por membros da Secretaria da Educação Superior do Ministério da Educação, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), da Abenge e do próprio CNE, por meio do Conselho de Ensino Superior (CES), que já realizou o primeiro debate em sessão fechada, no início de outubro deste ano. Já a primeira discussão pública deverá ocorrer entre os dias 5 e 8 de novembro

“A Prograd foi procurada por alguns docentes preocupados com o fato de que alguns cursos de Engenharia da Unesp terem grades curriculares muito travadas, muitas disciplinas obrigatórias e disciplinas práticas desvinculadas das disciplinas teóricas. Diante dessas inquietações, criamos um grupo de trabalho informal das engenharias para discutir ações que possam adequar os cursos às demandas do mundo atual. Outro fator que consideramos foi a iminência da divulgação de novas diretrizes para os cursos de engenharia pelo CNE. Dentro desse contexto que o GT sugeriu que o professor Vanderli fizesse a apresentação da proposta das novas diretrizes para o ensino das engenharias”, declarou a Pró-Reitora do Prograd, professora Gladis Massini-Cagliari.

As diretrizes atuais estão em vigor desde 11 de março de 2002, por meio da Resolução nº 11 do CNE/CES. Outras resoluções para cursos específicos de engenharia também foram publicadas nos últimos 16 anos (nº 1, 2 fev 2006 – Engenharia Agronômica ou Agronomia; nº 2, 2 fev 2006 – Engenharia Agrícola; nº 3, 2 fev 2006 – Engenharia Florestal, nº 5, 2 fev 2006 – Engenharia de Pesca; nº 2, 18 jun 2007 – Carga Horária e Integralização; nº 1, 6 jan 2015 – Geologia e Engenharia Geológica; nº 5, 16 nov 2016 – Ciência da Computação, Sistemas de Informação, Engenharia de Computação, Engenharia de Software e Licenciatura em Computação).

Para o presidente da Abenge, as diretrizes atuais (CNE/CES 11/2002) não atendem mais às necessidades de formação de um engenheiro porque os cursos trabalham com conteúdos fragmentados e isolados.

Como se o aluno formasse e tivesse que montar um quebra-cabeça. Ele vai descobrir que faltam muitas peças e muitas não se encaixam. Então, qual é o modelo que está suplantando esse em função das necessidades atuais? A formação por competências. O aluno tem que mostrar o que sabe fazer com o que aprendeu. Trabalhar com pessoas, em sistemas que possibilitem a ele desenvolver efetivamente a atividade de engenharia”, explica.

O professor Vanderli mostrou ao longo da palestra que a proposta encaminhada para análise do CNE, em que destaca oito competências gerais que devem ser esperadas de um egresso do curso de engenharia.

Segundo o documento, os engenheiros precisam saber analisar e compreender os usuários das soluções tecnológicas de engenharia e seu contexto, para formular as questões de engenharia de forma a conceber soluções desejáveis; analisar e compreender os fenômenos físicos e químicos por meio de modelos matemáticos, computacionais ou físicos, validados por experimentação; conceber, projetar e analisar sistemas, produtos (bens e serviços) componentes ou processos; implantar as soluções de engenharia considerando os aspectos técnicos, sociais, legais, econômicos e ambientais; comunicar-se efetivamente; trabalhar e liderar equipes multidisciplinares; interpretar e aplicar com ética a legislação e os atos normativos no âmbito do exercício da profissão; e, ser capaz de aprender de forma autônoma, para lidar com situações e contextos desconhecidos, atualizando-se em relação aos avanços da ciência e da tecnologia. Além dessas, o professor ressalta que cada curso precisa ainda agregar as competências específicas, de acordo com a modalidade e a ênfase escolhidas.

“O perfil esperado do egresso do curso de engenharia será um engenheiro humanista, crítico, reflexivo, criativo, cooperativo, ético, apto a pesquisar, desenvolver, adaptar e utilizar novas tecnologias, com atuação inovadora e empreendedora, capaz de reconhecer as necessidades dos usuários, analisando e formulando questões a partir dessas necessidades e de oportunidades de melhorias para projetar soluções criativas de Engenharia, com a perspectiva multidisciplinar e transdisciplinar em sua prática, considerando os aspectos globais, políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais, capaz de atuar com atitude isenta de qualquer tipo de discriminação e comprometido com a responsabilidade social e o desenvolvimento”, expressou o presidente da Abenge que lembrou ainda a necessidade de realizar ações de acolhimento aos estudantes quando ingressam na universidade.

“Parece incrível, mas o aluno sai de casa e vai morar sozinho. Ele está acostumado com tudo dado na mão e vai ter que se virar. Saber administrar a sua liberdade. Lá no ensino médio, como diminuiu muito a parte de conteúdo, o aluno não estuda muita coisa e tira notas boas. Chega na universidade, além de ele estudar muito, ele tira nota baixa. Então, ele vai deixando. ‘Que dia é a prova de cálculo? Depois de amanhã’. Ele começa estudar hoje. Aí não vai dar conta. Vai tirar nota baixa, mesmo! Ele não faz o estudo diário das disciplinas, por exemplo. Então, ter um sistema de orientação, de acolhimento, de orientação psicopedagógica e orientação social diminui a evasão, como nos comprovou o caso que eu conheço da Universidade do Rosário, na Argentina”, esclareceu.

Todos os coordenadores e conselheiros dos 34 cursos de Engenharia da Unesp, incluindo o campus Sorocaba, participaram da videoconferência realizada pela Prograd para discutir a proposta de novas diretrizes curriculares para os cursos.

“Eu acredito que essa discussão foi um passo positivo para repensar os nossos cursos. Do ponto de vista do grupo de trabalho, o importante agora é trabalhar com alguns cursos, com algumas áreas específicas, para que possamos, através da experimentação, chegar a uma proposta, para ser encaminhada à discussão geral, e, assim, realizarmos a reestruturação de todas as engenharias da Unesp. Eu entendo que as possíveis novas diretrizes não flexibilizarão o conteúdo, a formação sólida dos nossos alunos, mas vamos trabalhar para que as atividades práticas possam ser mais integradas em nossos currículos e mais relacionadas com as disciplinas de conteúdo”, comentou Massini-Cagliari.

Para o assessor do Gabinete do Reitor da Unesp e professor da Faculdade de Engenharia do campus Bauru (FEB), Edson Capello, é fundamental que se faça essa discussão com os cursos de engenharia da Universidade porque, embora a formação técnica seja imprescindível, o engenheiro do futuro precisa ganhar outras habilidades, como ser mais inovador, mais empreendedor, saber trabalhar em equipe, ser mais flexível, pensar nos projetos de forma integrada à necessidade do usuário, e ser ético.

“São competências que podem ser incorporadas à formação dos engenheiros, pois não têm a necessidade de grandes alterações nos currículos, tendo em vista que muitas dessas formas de aprendizagem; novos ambientes de aprendizado e aprendizado por projeto; já são aplicadas em alguns cursos. Obviamente, isso vai demandar empenho dos docentes para que incorporem essas iniciativas nas disciplinas. Estas ações provocarão importante ganho de qualidade nos cursos de engenharia da Unesp”, falou Capello.

Com a possibilidade das novas diretrizes serem definidas na próxima reunião do CNE/CES no mês que vem, o presidente da Abenge acredita que precisarão também ser criados incentivos institucionais aos professores, pelas agências científicas de fomento, para que as mudanças na graduação de engenharia, de fato, ocorram.

“O professor tem que ter incentivo para trabalhar isso. Porque hoje a universidade está toda voltada para que o professor trabalhe na Pós–graduação e na pesquisa. Se ficar só na graduação, não tem projeção, não tem financiamento, não tem incentivos. Eu não tenho dúvida, o principal agente de mudança é o professor que tem que ser valorizado. Inclusive, com bolsas tais quais as que recebem hoje os professores que trabalham na pesquisa e na pós-graduação”, concluiu Vanderli Fava de Oliveira.

 

Fonte: Unesp
Foto: Jorge Marinho

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *