Orientados pelo professor Jeremy Marozeau, que teve a ideia principal da obra, a dupla desenvolveu a escultura voltada para pessoas surdas com implante coclear, um aparelho auditivo complexo e externo que amplifica o som para quem tem uma perda auditiva mais simples, por exemplo, devido à idade. “A gente estuda as limitações desse aparelho para poder melhorá-lo. A dificuldade de distinguir frequências muito próximas [na música], que causam sentimentos de tensão, angústia, medo e tristeza, às vezes, é perdida”.
Projeto para todos
A iniciativa também pode alcançar pessoas surdas e o público em geral. De acordo com a engenheira, a obra ganhou mais repercussão após ser exposta no concerto “Distortion Festival” em Copenhage, a capital da Dinamarca, onde pôde ser utilizada por diversas pessoas, inclusive não surdos.
Foi justamente neste evento que o nome da escultura surgiu, já que o tema da exposição, voltada ao público infantil, era sobre florestas. “Então, o que já estava mais ou menos parecendo uma flor a gente forçou a ser, para caber no tema”, explica.
Se na primeira exposição a obra ainda não tinha exatamente o formato ideal de uma flor, nas seguintes a dupla teve ajuda da artista Kiral World, que tornou o corpo da escultura mais semelhante ao nome.
Engenheira santista vê seu projeto que faz surdos ‘sentirem música’ ser exposto em museus da Europa. — Foto: Kiral World
Ao longo do último ano, a ‘flor’ ainda passou pela Copenhagen Contemporary (CC) e depois no Museu de Genebra, na Suíça, durante cinco meses. As músicas disponíveis ao público eram principalmente autorais, segundo ela. No momento, o grupo de pesquisadores busca apoio financeiro para continuar o projeto e, nesse meio tempo, o trabalho deve ser melhorado.
Início
Nascida em Santos, Caroline se mudou para o Rio Grande do Sul para cursar a graduação de Engenharia Acústica na Universidade Federal de Santa Maria, única do país a disponibilizar esse bacharelado. Porém, foi durante uma feira de ciências que descobriu projetos em que objetos emitem vibrações de acordes musicais. Na época, um estudante da Universidade de São Paulo (USP) fez um teclado que vibrava o som em uma pulseira. “Eu lembro que toquei no teclado com o acessório e senti a vibração dele, mas eu não ouvia nada da música, não estava tocando e eu achei muito doido”, lembra.
Após ter entrado na UFSM, a estudante fez o estágio obrigatório em uma empresa dinamarquesa que fica justamente na DTU. Logo, a jovem se inscreveu no mestrado, que disponibiliza o projeto Augmented music (Música Aumentada), uma mistura entre a pesquisa do implante coclear e a arte. “Quando o professor ofereceu a participação nesse projeto eu fui correndo, porque é uma coisa que já tinha me chamado atenção há muito tempo”, disse.
Nele, um grupo de seis pessoas se dividiu em duplas e, além da flor criada por Caroline e Justin, outros integrantes fizeram uma cadeira e um tronco de árvore, que possuem os mesmos efeitos da “Blooming Sounds.
Caroline Gaudeoso, de 27 anos, explica que a “Hugging tree” é um tronco de arvore que vibra, para que dessa forma pessoas surdas possam abraçar a música — Foto: Divulgação
Amor à música
Caroline Gaudeoso e a banda O Baile, que toca Música Popular Brasileira (MPB) na Dinamarca. — Foto: Arquivo Pessoal
Caroline explica que sempre teve uma relação com a música, inclusive, isso a levou a participar da banda O Baile, que toca Música Popular Brasileira, especialmente Bossa Nova. Ela ressalta o efeito que a arte tem de unir e de levar alegria às pessoas: “Me sinto muito realizada de poder fazer com que todo mundo tenha esse acesso ao sentimento que a música traz”, disse.
Ela ainda afirma que, no fim das contas, o som é uma vibração que é traduzida pelo ouvido como música. “Os surdos poderiam ter acesso a isso, a única coisa que falta são pessoas capacitadas para criar essa tecnologia”, ressalta.
Fonte: G1 Santos (SP)