Um estudo da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) está inserindo o processo formativo do professor como ponto central para a garantia da qualidade no ensino da Física e de outras ciências tais como Química, Matemática e Biologia.
A pesquisa “O desenvolvimento profissional docente e o ensino de Física”, que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), é conduzida pela professora Fernanda Keila Marinho da Silva, do Departamento de Física, Química e Matemática do campus Sorocaba da Ufscar.
“Um dos problemas centrais do ensino das Ciências, de uma forma geral, é a formação docente. Quero compreender de que forma os estudantes da licenciatura em Física e os professores formados e que estejam em exercício, lecionando essa disciplina no Ensino Médio, compreendem seu próprio desenvolvimento profissional”, relata a docente.
Silva conta que a ideia surgiu ainda em 2013, a partir de pesquisas e práticas de ensino junto aos licenciandos e pós-graduandos em Física do Campus Sorocaba da UFSCar. A pesquisa trabalha com dois públicos distintos: o futuro professor, que cursa Licenciatura em Física; e o professor já formado e atuante, que cursa o mestrado profissional em Ensino de Física, ambos vinculados ao campus Sorocaba da Ufscar.
“No caso dos licenciandos, desejo explorar suas percepções em relação aos estágios, às supervisões de estágio recebidas nas escolas e às escolas como espaço da formação inicial. No caso dos professores formados, conseguiremos explorar suas percepções em relação aos processos formativos vivenciados em exercício e, inclusive, a formação relacionada ao mestrado profissional”, descreve a pesquisadora.
“Quero tentar trazer a própria percepção dos participantes em relação aos processos formativos vivenciados por eles”, destaca ela. “Por muito tempo e, em alguns casos, ainda hoje, o professor é visto e reconhecido como um técnico, um profissional que deveria transpor um conhecimento acadêmico para o público escolar. A partir dos anos 1990, no Brasil, o professor passa a ser visto como um profissional que não somente transpõe, mas na maioria das vezes, produz um conhecimento escolar. E, nesse contexto, o desenvolvimento desse profissional deve ser orientado por aspectos vivenciados por ele”, defende Silva.
Outra preocupação da pesquisadora é com a qualidade do próprio ensino de Física e o papel do professor nesse processo. “O eco da licenciatura ou, melhor dizendo, das disciplinas pedagógicas reverberam pouco no espaço da Física escolar. Materialmente, isso faz com que a Física do Ensino Médio seja uma Física da universidade reduzida, simplificada. E veja que isso transforma o professor num transferidor de conteúdo. É verdade que isso ocorre com o currículo de todas as áreas científicas, mas, na Física, o impacto parece ser maior”, alerta ela.
Desenvolvimento da pesquisa
A pesquisadora irá trabalhar com materiais produzidos pelos estudantes de licenciatura nas disciplinas de orientação de estágio, tais como atividades de sala de aula e relatórios de estágio.
Outra ferramenta serão as entrevistas, cuja elaboração e aplicação irão considerar os dois públicos diferentes: aquele que se encontra em formação inicial e o que está em exercício profissional, isto é, já formado.
“Para o primeiro caso, é importante que conheçamos algumas preconcepções acerca da docência para que possamos orientar a formação inicial no sentido de desconstruí-las, quando for o caso. Também precisamos conhecer quais as aspirações profissionais desses alunos, a visão que possuem da área de conhecimento, de que forma encaram os desafios das escolas por meio do estágio, de que maneira o estágio vai ou não dar conta desses desafios na prática profissional efetiva etc. No caso dos professores em exercício, as perguntas devem girar mais em torno dos desafios profissionais atuais; nesse caso, vamos questioná-los acerca do potencial da formação continuada para encarar os desafios mais urgentes da escola pública”, detalha Fernanda da Silva.
Para analisar os dados – discursos – obtidos nas entrevistas e nos materiais, a pesquisa adotará como referencial teórico-metodológico o princípio dialógico proveniente das ideias do filósofo russo Mikhail Bakhtin. Parte dos dados já foi coletada e a revisão bibliográfica do estudo também já foi realizada. As entrevistas serão iniciadas nos próximos meses. O projeto conduzido por Silva tem previsão de término para agosto de 2019, mas dois trabalhos orientados por ela no âmbito do doutorado se estendem além dessa data, garantindo mais tempo para aprofundar a discussão.
Texto: Denise Britto
Fonte: Ufscar
Foto: Banco de Imagens / Internet