A medida do Governo Federal em exigir o uso do BIM (sigla em inglês para Modelagem de Informação da Construção) a partir de 2021 faz parte da Estratégia Nacional de Disseminação do BIM no Brasil. Esta determinação está no planejamento do governo e prevista para ser publicada no Diário Oficial em julho de 2018.
O primeiro passo para a mudança aconteceu em 17 de maio com o decreto nº 9.377/18 assinado pelo presidente da República Michel Temer, durante o Encontro Nacional da Indústria da Construção (ENIC), que aconteceu em Florianópolis (SC).
O decreto tem como finalidade promover um ambiente adequado ao investimento da tecnologia, além de incentivar seu uso em âmbito nacional.
Para o professor Sergio Scheer, especialista participante do Comitê Estratégico de Implementação do BIM, o uso dessa tecnologia vai beneficiar a construção civil.
“Os projetos serão melhor desenvolvidos e as construções terão mais qualidade. O setor sofrerá com menos desperdício e retrabalho, o que vai fazer com que o uso do recurso público envolvido seja melhor aproveitado”, garante.
Com essa ação, a expectativa é de que haja um aumento de 10% na produtividade do setor e uma redução de custo que pode chegar a 20%, de acordo com estudos contratados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Segundo os estudos da Agência, somente 5% das empresas usam a ferramenta. Se metade da cadeia da construção (em faturamento) adotar a plataforma até 2028, haverá ganho de 7 pontos percentuais do PIB do setor.
Ações estratégicas para disseminação do BIM
A iniciativa elaborada durante um ano por um grupo formado por sete ministérios, conta com nove diretrizes:
Difundir o BIM e seus benefícios;
Coordenar a estruturação do setor público para a adoção do BIM;
Criar condições favoráveis para o investimento, público e privado;
Estimular a capacitação;
Propor atos normativos que estabeleçam parâmetros para as compras e as contratações públicas;
Desenvolver normas técnicas, guias e protocolos específicos;
Desenvolver a Plataforma e a Biblioteca Nacional BIM;
Estimular o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM;
Incentivar a concorrência no mercado por meio de padrões neutros de interoperabilidade.
Mudanças, capacitação e frentes de trabalho
Mudanças podem gerar certo desconforto, ainda que o objetivo seja facilitar a vida de engenheiros, arquitetos, projetistas e todos aqueles que vivenciam a cadeia da construção. Isso porque a pouca mão de obra qualificada, as dificuldades e a falta de padrões de desenho brasileiros causam receio por parte dos profissionais.
Mas o mesmo aconteceu na década de 1980, quando a tecnologia CAD (Computer Aided Design) veio ao Brasil. A transição não foi simples, segundo Scheer. Mas hoje é possível perceber quão forte é sua utilização no mercado, depois que os profissionais da construção passaram por capacitação. No caso do CAD, ele permite apenas que se crie representações de elementos construtivos, e não uma simulação virtual completa da obra como é no BIM.
Conforme Scheer, a implementação da tecnologia BIM na construção civil será bem mais drástica do que a mudança que aconteceu com a chegada da tecnologia CAD.
Por isso, para o professor, o principal desafio será a capacitação. “As pessoas têm que estar convencidas de que essa mudança é positiva. É uma mudança severa nas práticas, mas será por um bom motivo”, afirma.
Na opinião do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, a criação da Estratégia BIM é essencial, porque o governo é capaz de incentivar as empresas a migrar para essa plataforma tecnológica, tanto por meio de compras públicas quanto por capacitação.
Capacitar, inclusive, consta nas seis frentes de trabalho definidas na Estratégia de Implementação:
Regulamentação e Normalização;
Plataforma BIM;
Capacitação de Recursos Humanos;
Compras governamentais;
Infraestrutura tecnológica;
Comunicação.
Com a intenção de suprir a necessidade de preparar os profissionais, a partir do segundo semestre de 2018 já irão ocorrer ações de qualificação.
Como consta no Planejamento Estratégico de Implementação, a ação será feita por meio de treinamentos, sobretudo para o setor público. A estrutura de capacitação deve acontecer com ênfase em EaD (Educação a Distância).
Como ficam as faculdades de engenharia e arquitetura
Além dos profissionais que já atuam no mercado, é preciso levar em conta também aqueles que estão se preparando ainda nas cadeiras das universidades do País.
Nesse sentido, o Comitê Gestor da Estratégia será responsável por auxiliar faculdades de engenharia e arquitetura a criar disciplinas-modelo que possam ser adaptadas no currículo.
O Brasil no cenário mundial
A tecnologia BIM chegou ao Brasil em meados dos anos 2000. Em relação a outros países, o Brasil segue na média quando o assunto é a adoção da ferramenta. “Ainda estamos muito devagar, precisamos acelerar. O decreto é um aviso”, diz Scheer. Agora, com o anúncio do Governo Federal, espera-se que esse cenário seja diferente.
A inspiração da equipe que desenvolveu a estratégia de implementação do BIM vem do Reino Unido, referência no uso da tecnologia. Lá, foi estabelecida a data marco de 4 de abril de 2016 para que todos os fornecedores do Governo comprovem o uso do BIM em obras públicas.
No Reino Unido já é exigido BIM Nível 2 (modelagem e interoperalidade) e deverá chegar ao BIM Nível 3 até 2025. A ideia principal do governo é reduzir o custo de projeto, além de diminuir a emissão de carbono.
Na América do Sul, o Chile foi o pioneiro na adoção da tecnologia BIM em projetos públicos. Em 2016, o governo chileno divulgou o Plano BIM, que estabelece que todas as obras públicas estejam inseridas na plataforma tecnológica a partir de 2020.
No Brasil, Santa Catarina foi o primeiro estado a definir que até 2019 as licitações de obras públicas sejam feitas com a metodologia BIM. Para ajudar construtoras e incorporadoras, o governo local lançou o Caderno de Projetos em BIM. O documento, escrito por um grupo técnico criado em 2014, determina a padronização e a formatação que orientam o desenvolvimento de projetos em BIM.
Biblioteca BIM
A ABDI está construindo a Biblioteca BIM. A iniciativa vem para facilitar a troca de informações entre os profissionais da construção civil. Quando um projetista, por exemplo, vai modelar um edifício em BIM ele utiliza um banco de dados de materiais prontos.
Portas, paredes, canos têm especificidades. Com a biblioteca, todas as especificidades necessárias para um projeto constarão no documento. É uma espécie de cadastro de produtos e serviços, com preços, que podem ser utilizados nas obras.
“As bibliotecas digitais servirão para que União, governos estaduais e prefeituras possam reduzir despesas e trabalho, além de prestar contas de forma mais transparente à população. É uma tecnologia que deve ser adotada como prioridade”, afirma o presidente da ABDI, Guto Ferreira.
O que é BIM
A sigla BIM significa Building Information Modeling. O mesmo que Modelagem de Informação da Construção, em português.
O BIM nada mais é que uma maneira eficiente de reunir todas as informações de uma construção de forma integrada e organizada. Esse conjunto de informações vai desde o modelo em si da edificação até seu orçamento. Isto é, acompanha a obra em todo o seu ciclo de vida.
A tecnologia BIM permite criar digitalmente modelos virtuais precisos de uma construção. Os modelos oferecem informações detalhadas de cada parte de um projeto, o que possibilita melhor análise e controle. Com o BIM, também é possível integrar softwares de diferentes fabricantes para que eles possam “conversar” entre si usando uma linguagem comum e aberta.
Além de integrar todos os dados em um único local, o seu uso também facilita o compartilhamento do projeto entre diferentes profissionais durante o processo de construção.
Esses profissionais podem inclusive trabalhar no mesmo projeto e ao mesmo tempo. Desde arquitetos, engenheiros, projetistas, fornecedores de materiais, gerentes ambientais e clientes. Assim, todos podem interagir com o projeto de um edifício, gerando maior valor agregado.
A tecnologia BIM minimiza erros que seriam comuns no processo de projeto em 2D, por exemplo. Com o BIM, constrói-se maquetes eletrônicas, obtendo plantas, cortes e vistas. É possível simular como ficará cada detalhe estrutural da construção.
A tecnologia é tão eficaz que fornece informações aprofundadas de cada parte da evolução de um empreendimento. Além de permitir a atualização no modelo em tempo real.
Curso
Pensando na importância de oferecer aos profissionais da construção mais conhecimento sobre a tecnologia BIM, o Buildin está desenvolvendo um curso online sobre como utilizar a ferramenta para que você possa aprofundar seus conhecimentos e se destacar no mercado.
A parceria, feita com o portal BIM Na Prática, chega para resolver o problema de profissionais que desejam aprender mais sobre a tecnologia, mas não sabem onde buscar informações relevantes sobre o tema.
Para isso, contamos com o seu apoio para responder algumas perguntas de validação do curso. Ao final das pesquisa, você ainda recebe gratuitamente um infográfico sobre BIM.
Texto: Vanessa Farias
Fonte: Buildin
Foto: Banco de Imagens / Internet