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Planejamento urbano e a emergência climática

Em meados da década de 1990, telefones celulares começavam a fazer parte do cotidiano dos brasileiros quando a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento dava início ao debate sobre temas globais relacionados às mudanças climáticas. Anos depois, com a evolução dos celulares e a popularização das redes sociais, cenas do cotidiano passaram a ser compartilhadas, em tempo real, ampliando a visibilidade inclusive dos impactos das mudanças climáticas em todo o mundo.Impossível fechar os olhos diante de fotos e vídeos, que chegam pelas telas da TV e dos nossos smartphones, de deslizamentos de terra, chuvas intensas e tempestades de areia, alguns fenômenos que causam transtornos e deixam um rastro de destruição pelo caminho. São cenas que atingem o país e o mundo com mais frequência do que gostaríamos e acendem o alerta para a inexistência de um planejamento urbano que nos proteja dos impactos das mudanças climáticas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 70% da população mundial deve viver em áreas urbanas até 2050. Absorver esse crescimento populacional atrelado a iniciativas socioambientais é o grande desafio para o desenvolvimento de cidades mais inteligentes e sustentáveis.

O conceito de cidades inteligentes surge como uma solução para mitigar os efeitos das alterações climáticas e organizar melhor as cidades para evitar novas catástrofes. “Esse é o desafio do gestor público, que precisa enxergar as particularidades da sua cidade e associá-las às novas tendências”, afirma o Eng. Civ. Joni Matos, diretor administrativo do Crea-SP. “A elaboração de um plano diretor sem a participação de um especialista em cidades inteligentes pode estabelecer diretrizes descompassadas”, complementa. De acordo com a ONU, o desafio das cidades no século 21 está voltado à crise climática. “Temos acompanhado o aumento na frequência dos relatos desses fenômenos, cada vez mais intensos”, cita o meteorologista e conselheiro do Crea-SP, Ricardo Hallack.

Projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) indicam um aumento entre 1,8ºC e 4ºC na temperatura média global nos próximos 100 anos e um aumento do nível médio do mar entre 0,18 m e 0,59 m, o que pode afetar todo o ecossistema das cidades.

“A população fica à mercê dos fenômenos meteorológicos porque não tem como se precaver por falta de planejamento urbano. Um dos graves problemas do Brasil é moradia em regiões de risco. Porém, faltam estudos e iniciativas para evitar que as pessoas povoem esses locais”, reforça Hallack.

As regiões de risco já foram mapeadas pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Nacionais (Cemaden), mas Hallack observa que falta direcionamento dos recursos públicos federais para essas áreas. “Não podemos ignorar o fato de que, se ficarmos parados, sem tomar nenhuma providência para estancar problemas óbvios, comprometeremos o futuro das outras gerações.”

Além da necessidade de direcionar os investimentos, o meteorologista ressalta a relação entre os fenômenos registrados em todo o Brasil, caso das tempestades de poeira em São Paulo e Mato Grosso, que até então não eram observadas. “Com as grandes queimadas na região da Amazônia, por exemplo, o arco de desmatamento avança ano a ano e é visível pelos satélites. Falar que desmatar a Amazônia não terá efeito nenhum nos fenômenos meteorológicos no resto do Brasil é uma leviandade científica”, conclui o meteorologista.

Atuando de forma efetiva para mudar este cenário, o Crea-SP desenvolve diversos projetos. Um exemplo dessas iniciativas é o Colégios de Inspetores, evento que, em sua última edição, promoveu 10 encontros em diferentes regiões do estado de São Paulo, com o objetivo de fortalecer o debate sobre cidades inteligentes e auxiliar os municípios na produção de diagnósticos sobre os potenciais e desafios de cada região.

Durante os encontros foram elaboradas mais de 160 propostas pelos profissionais da área tecnológica. Com isso, os governos municipais e estadual terão à sua disposição diagnósticos com sugestões de melhorias baseados na realidade de cada cidade paulista para que possam implementar planejamentos eficazes, que vão ao encontro das especificidades locais.

Fonte: Crea-SP

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